Os livros poéticos são assim classificados porque, em sua estrutura textual, a poesia é predominante. A poesia da Bíblia não se limita aos chamados “livros poéticos”, que compreendem de Jó a Cantares; pois uma parte dos livros proféticos se apresenta sob a forma poética. Mas também há neles narrativas e profecias. Tais poesias foram produzidas por inspiração divina para servirem como instrumento de comunhão do homem com Deus e na sua meditação nas coisas espirituais (Sl 119.97).
Não só o A.T., mas também o N.T. incluem um elemento poético, nem sempre estudado com atenção. As epístolas do N.T. parecem conter fragmentos de poesia. O último livro do N.T. (Apocalipse) encontra-se também cheio de cânticos.
Qualquer que seja a língua, povo ou cultura, a literatura poética se destaca não apenas por sua beleza, mas também pela facilidade do povo em memorizar sua mensagem. Os livros que formam a seção poética da Bíblia são assim chamados, pois são “poesias”, ou seja, escritos que têm como manifestação o mundo interior do autor. Ora, na mente do escritor, basicamente temos dois tipos de faculdades: a sensibilidade e o entendimento. Desta forma, os “livros poéticos” traduzem tanto ensinamentos (resultado do entendimento, da reflexão), como sentimentos (resultado da sensibilidade, das emoções e sensações). Não é de se admirar, portanto, que, no grupo dos poéticos, tenhamos tanto livros de ensinamento (os chamados “livros de sabedoria” ou “livros sapienciais”), como livros de louvores e cânticos.
A característica da poesia hebraica não é a rima e nem a métrica, e sim o paralelismo. Esse recurso literário é a equivalência no pensamento ou na linguagem entre os membros de cada cláusula da unidade de pensamento. Para a literatura em todos os tempos, a poesia hebraica é uma das mais importantes contribuições do povo semita para a humanidade. Sua literatura primitiva tem, portanto, como base, a poesia – comum ao desenvolvimento dos povos – como é informado pela antropologia.
Os chamados “livros poéticos” são cinco, a saber: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Destes, três são sapienciais (Jó, Provérbios e Eclesiastes) e dois são livros de louvores e cânticos (Salmos e Cantares de Salomão). Entre os hebreus, todos eles estão classificados entre os “Ketuvim” (outros escritos), que constitui a última parte do cânon judaico e que se inicia, precisamente, com os Salmos; daí esta parte ter sido chamada de “Salmos” por Jesus (Lc 24.44).
Ao estudarmos os livros poéticos do Antigo Testamento, não estaremos nos confrontando com a gama de escritos poéticos ou, tampouco, com todos os gêneros desenvolvidos na época. O que será estudado estará limitado ao que se encontra nas Escrituras e de forma sintética, não tendo, esse compêndio teológico, a intenção de encerrar o estudo – algo impossível devido às limitações do curso. No entanto, salientamos que, no decorrer do aprendizado, o estudante deve procurar se aprofundar em pesquisas acerca tanto da poesia como da sapiência hebraica, pois, através das linhas produzidas pelos autores se pode perceber a sensibilidade de um guerreiro e até mesmo as incertezas de um sábio.
Ainda há alguns detalhes sobre a poesia e sabedoria hebraica que são dignos de informação. Entre tanto, podemos salientar que o antigo Testamento se constitui por linhas poéticas em um terço de sua formação. Muitos livros proféticos estão escritos em poesia (ver Is 1.2-31; 2.2-3.17,24-26; 5.1-30; 6.3b,9-13; 40.1-44.8; 44.21-52.2; 52.7-59.20; 60.1-66.16; 66.22-23; Jr 1.5-8, 9b-10; 2.2b-3; 2.5-3.5, entre outras passagens). As versões editoriais que, em vez de apresentarem o texto em forma poética, apresentam em prosa, por exemplo: passagens como Gênesis 2.23; 3.14-19; 4.23-24; 9.25-25; 14.19-20; e 25.23, estão escritas em forma poética. O leitor, não íntimo da linguagem poética ou sapiencial, não consegue atentar para a quantidade da mesma, presente na revelação divina ou nas expressões de profetas e outros personagens vétero-testamentários. Daí, muitas interpretações estão cheias de forçosas situações e indiferentes à mensagem que o autor se esforçou para transmitir ao povo e à sua posteridade. Exemplos de interpretação de texto onde o simbolismo (característica da linguagem poética) é desprezado e a interpretação é aplicada, são: Jz 5.10; Jó 38.7; Sl 114.3-4.
Concernente à Sabedoria, sua relação com a poesia é próxima. Não obstante, nem toda poesia tem característica de sabedoria, mas um número considerável de sabedoria está em forma de poesia. A literatura sapiencial se ocupa em instruir para a vida prática do cotidiano. Seu estudo é, por demais, satisfatório, tendo em vista o estudante que estará debruçado sobre uma literatura de sabedoria oriental, escrita em diversos contextos históricos e com propósitos por demais variados.
Uma loja da FABI - Faculdade Batista de São Paulo, feito com carinho para quem gosta de Teologia. =)